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MÉTODO EVOLUTIVO, GENES, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA


A mortalidade por doenças degenerativas vem aumentando na última década. Doenças do coração e os derrames foram responsáveis por 38 milhões de mortes em 2012. No Brasil, as doenças cardíacas causaram 139 mil mortes, enquanto o diabetes foi responsável por 30 mil óbitos.


Nos últimos anos mesmo com todos os esforços investidos na prevenção dessas doenças, elas continuam aumentando e levando cada vez mais pessoas à morte e/ou a diminuição da qualidade de vida.


Por qual motivo será que isto está acontecendo? Muito possivelmente porque a identificação das causas dessas doenças não tem tido sucesso.


Acredito que a melhor forma de tentar identificar essas causas é usar a chamada Teoria da Incompatibilidade. Ela levanta a hipótese de que nossos genes evoluíram em ambientes ancestrais que foram completamente diferentes do que temos hoje. Isso leva a uma diferença muito grande entre o que nosso organismo espera e o que ele encontra na nossa vida atual.

O Método Evolutivo se fundamenta na teoria da incompatibilidade para fazer suas recomendações e desenvolver seus programas de treinamento. Isso nos leva a uma importante pergunta: Poderia um estilo de vida semelhante ao dos nossos ancestrais nos levar a uma menor incidência de doenças degenerativas e maior qualidade de vida?


Para responder essa questão, uma excelente alternativa é estudar os hábitos de vida e incidência de populações atuais que mantenham seus costumes, sem a influência do estilo de vida ocidentalizada.


As diferentes comunidades primitivas existentes no mundo não costumam apresentar as alterações ligadas ao envelhecimento consideradas inevitáveis. Elas costumam não ter diminuição da audição e visão, aumento do peso e da gordura corporal e as doenças degenerativas estão praticamente ausentes nesse grupo pessoas. Quando essas populações são comparadas com as populações ocidentalizadas elas apresentam maior aptidão física.


Dois pontos importantes reforçam a teoria da incompatibilidade. O primeiro é que essas comunidades quando expostas a um estilo de vida que inclui alterações na sua dieta e atividade física, mostram a mesma deterioração da saúde que nós pessoas civilizadas apresentamos.

O segundo é que a aplicação de um estilo de vida que se assemelhe ao estilo de vida dos nossos ancestrais pode trazer inúmeros benefícios para a saúde, inclusive a diminuição do risco das doenças degenerativas.


Isso mostra que a matriz evolutiva que fundamenta as recomendações e os programas de treinamento do Método Evolutivo pode ser extremamente eficaz para que a saúde a aptidão física seja atingida. E também aumenta muito as chances de prevenção das doenças degenerativas possam ser eficientes e futuramente nos leve ao desenvolvimento de uma cultura de prevenção e não de tratamento.


Grande abraço,

Carlinhos

* Este texto foi produzido após a analise de artigos científicos e expressam a interpretação destas evidências. Caso você queira conhecer os fundamentos que sustentam esta postagem leia o texto abaixo.

* Você também pode, se assim desejar, deixar seu comentário no final desta página.

 

Por qual motivo usar a abordagem evolutiva?

No mundo inteiro a mortalidade por doenças degenerativas, como as doenças cardiovasculares, câncer, diabetes, doenças respiratórias crônicas e outras, aumentaram na última década. Em 2012 elas foram responsáveis por 38 milhões de mortes, o que representou 68% de todas as mortes no mundo [1]. Entre as pessoas com menos de 70 anos essas doenças representam 52% das causas de mortes [1]. As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte entre as doenças degenerativas, tendo sido responsáveis por 17,5 milhões de óbitos em 2012. Como pode ser visto na figura abaixo, as doenças cardiovasculares isquêmicas e o acidente vascular cerebral lideram as causas de mortes. Infelizmente a perspectiva futura não é positiva no que diz respeito a essas doenças. Em relação ao Diabetes estimasse que nos próximos 20 anos o número de diabéticos irá dobrar na África, chegando a 35 milhões de casos [2].

Nós brasileiros também estamos sendo afetados por esse fenômeno. No Brasil as pessoas entre 30-70 anos apresentam 19,4% de risco de morte por doenças degenerativas [1], a isquemia cardíaca causou 139 mil mortes em 2012 [3] e as principais causas reproduzem as estatísticas mundiais. Dados de 2016 mostram que o diabetes foi responsável por cerca de 30 mil óbitos e os níveis elevados de glicose sanguínea por mais de 45 mil [4].


Nos últimos anos a ciência médica teve inúmeros avanços, entre eles podemos citar:

  • Novas tecnologias para o tratamento do câncer de próstata;

  • Medicações antipsicóticas de última geração;

  • Regressão da perda de visão;

  • Primeiro bebê de um útero transplantado;

  • Grandes avanços no tratamento da hepatite C, doenças autoimunes, reumatismo e melanoma;

  • Novo fármaco para insuficiência cardíaca;

  • Avaliação pré-natal mais completa;

  • Melhor estratégia de tratamentos e prevenção nas doenças neurodegenerativas como Parkinson e Alzheimer;

  • Estruturas orais 3D para dentes mais fortes;

  • Lentes de contato inteligentes;

  • Primeiro tratamento oral para a artrite psoriática;

  • Criação de um pâncreas artificial.

Mesmo com todos esses avanços as doenças degenerativas continuam crescendo e sendo as maiores causas mortalidade e de aumento da morbidade. Mas como isso é possível? Uma das explicações possíveis pode estar no fato de que a grande maioria dos avanços médicos, como podemos ver na lista anterior, estão relacionados com o tratamento e não com a prevenção das doenças.


Com o quadro atual e a perspectiva futura das doenças degenerativas podemos inferir que todos os esforços gastos na sua prevenção estão falhando. Mas estão falhando por qual motivo? Muito provavelmente por um equívoco na identificação dos fatores de risco que levam a essas doenças.


Acredito que a melhor hipótese que explica esses acontecimentos é uma teoria chamada de Teoria da Incompatibilidade. A teoria da incompatibilidade [5] diz que nossos genes evoluíram através da seleção natural em busca de uma função aprimorada para os ambientes em que vivemos no período pré-agricultura, que atualmente são completamente diferentes. Grandes alterações iniciaram após o surgimento da agricultura, mas a seleção natural é lenta e nossos genes permanecem adaptados às condições ancestrais. Isso resulta em uma incompatibilidade entre nosso organismo e as circunstâncias da vida moderna, levando ao desenvolvimento das doenças degenerativas.

Um bom exemplo de como nossos hábitos de vida afetam nossa saúde é a incidência de câncer de pulmão entre os anos de 1930 e 1990 nos EUA. Em 1930 o câncer de estômago era o câncer com maior incidência entre os homens e o segundo câncer mais frequente entre as mulheres. Já o câncer de pulmão era o câncer de menor incidência em ambos os sexos [6]. Porém esse quadro se alterou sessenta anos depois, em 1990 o câncer de pulmão era o mais mortal dos diferentes tipos de câncer, tanto para homens como para as mulheres (como pode ser visto nos gráfico que seguem).

Essas alterações na incidência do câncer de pulmão coincidem com o aumento do uso de cigarros nos EUA no mesmo período. Em 1930 os americanos passaram pela Grande Depressão, e ai o número cigarros fumados por habitante, que já vinha aumentando, apresentou um pico [7]. O uso de cigarros por habitante subiu até 1970 e depois apresentou um decréscimo até 1990. Porém nesse período esse número ainda era bastante elevado em relação a 1930, veja o gráfico que segue.


A teoria da incompatibilidade sustenta aquilo que na área da saúde é chamado de prevenção baseada na evolução. O objetivo é caracterizar as diferenças entre o estilo de vida no ambiente ancestral e o moderno, identificar quais dessas características estão relacionadas com o inicio e o progresso de uma doença degenerativa específica e usar essas informações de forma integrada com a evidência científica para a elaboração de recomendações consistentes e eficazes para a realização de estudos sobre fisiopatologia [5].

O Método Evolutivo, assim como a prevenção baseada na evolução, tem como matéria prima da sua fundamentação a Teoria da Incompatibilidade. Assim, os dois comungam do mesmo princípio de que a causa das doenças degenerativas é a incompatibilidade entre o ambiente que nossos genes esperam encontrar e aquele que oferecemos a eles. Esse princípio em commun nos leva a uma questão importante: poderia um estilo de vida mais semelhante ao dos nossos ancestrais evitar a diminuição das nossas capacidades funcionais, o ganho de gordura corporal, o surgimento de diferentes patologias e a diminuição da qualidade de vida no transcorrer do processo de envelhecimento?

Uma forma de buscar essa resposta é estudar populações atuais, que tenham um estilo de vida semelhante ao dos nossos ancestrais e/ou mantenham hábitos que possam ser caracterizados como não industrializados ou não ocidentalizados. Dentre estas populações podemos citar os:

  • Cayapo, Xavante e Yanomani no Brasil;

  • Trio e Wajan no Suriname;

  • Cashinahua no Peru;

  • Inuit no Canadá;

  • Mabaan no Sudão;

  • Bushmen no Kalahari/África;

  • Comunidade de Kitava na Papua Nova Guiné;

  • Athabasan no Alasca.

Nas sociedades ocidentalizadas é considerada quase que inevitável à redução ou a perda de duas importantes funções fisiológicas, a audição e a visão. Porém em sociedades não ocidentalizadas a visão e audição podem ser mantidas com o passar da idade. 541 sujeitos da tribo dos Mabaan do Sudão [8] passaram por teste de audição e praticamente nenhum deles mostrou diminuição auditiva com a passar da idade. Em outro estudo [9] foram realizados testes de deficiência visual de cores de Ishihara em 466 homens e 437 mulheres indígenas das tribos Yanomani, Cayapo e Xavante no Brasil. Foram encontradas pessoas com deficiência visual em três das quatro tribos estudadas, porém os resultados sugerem que essas deficiências são menores nos indígenas do que na população em geral.


A manutenção da audição constante provavelmente esta relacionada com o fato de que a população estuda [8] não possuia fontes de ruídos que pudessem gera frequências sonoras acima de 80 decibéis, que é considerado o valor seguro para nossos ouvidos (veja figura abaixo), mostrando que seu ambiente não possui um dos fatores importantes para o desenvolvimento da diminuição ou perda auditiva.

Para a grande maioria das pessoas as alterações de ganho de gordura corporal ou dificuldades mecânicas são algo inerente ao envelhecimento. É extremamente comum que caracterizemos os idosos dessa forma e isso fica claro nos símbolos utilizados para representá-los em estacionamentos ou outros locais.

Nas populações industrializadas alterações na composição corporal e o processo de envelhecimento estão associados. Entre essas alterações estão incluidas aumento da gordura corporal e sua redistribuição dos membros para a região central. Essas mudanças segundo alguns autores [10] podem ser resultado da genética, de mudanças na dieta, no nível de atividade física ou de uma combinação desses fatores.


Uma forte evidência de que a genética possa não estar associada com essa mudança na gordural corporal e sim os fatores ambientais, como a dieta e o estilo de vida ativo, é o fato de que comunidades indíginas na América do Sul não apresentam esse tipo de alteração com o passar da idade. Nessas populações a gordura corporal subcutânea se mantém estável dos 20 anos de idade até depois dos 60 anos [8, 11, 12], contradizendo o que normalmente acontece nas populações industrializadas. Quando são comparadas populações de hábitos primitivos de outras regiões do mundo com as populações ocidentalizadas, essas diferenças na composição corporal e gordura subcutânea também são demonstradas [13].


As comunidades com hábitos que se assemelham aos dos nossos ancestrais também costumam apresentar maiores níveis de aptidão física que as comunidades industrializadas. Um trabalho [14] avaliou aptidão cardiorrespiratória e a força de uma população de esquimós vivia no Nordeste do Canadá. Os resultados demonstraram que em todas as idades e em ambos os sexos a aptidão cardiorespiratória foi maior do que nos norte americanos de idade semelhante. Na faixa etária entre 20-30 anos os esquimós tiveram uma vantagem de 25% e isto aumentou para 36% quando foram comparados os caçadores ativos na mesma faixa etária. A força de extensão do joelho foi 50% maior nos esquimós do que nos homens americanos. Não pode deixar de ser registrado que essas diferenças nos níveis de aptidão física também são demosntradas entre as crianças de comunidades de esquimós e crianças de comunidades ocidentalizadas [15].

Como já citado anteriormente as duas maiores causas de morte no Brasil e no mundo são o acidente vascular cerebral (AVC) o e o infarto agudo do miocárdio (IAM). Estas duas causas foram responsáveis por cerca de 14 milhões de mortes em 2012. É curioso notar que as pessoas que apresentam hábitos de vida mais condizentes com as nossas “expectativas genéticas”, praticamente não apresentam risco de desenvolvimento dessas doenças. Em 1993 roi realizado um trabalho [16] com a população da ilha de Kitava na Papua Nova Guiné, foi avaliada a frequência de mortes subidas, dor torácica relacionada com esforço e agina em 213 adultos entre 20-96 anos. Não foi encontrado nenhum caso de AVC ou de doença cardíaca isquêmica, que poderia levar a um IAM, nessa população.


Entre as prováveis causas para essa aparente inexistência de AVC e IAM na população de Kitava, está a manutenção da pressão arterial normal e da composição corporal com o passar da idade [13]. Curioso notar que quando os valores de colesterol HDL e triglicerídeos dessa população são comparados com seus pares ocidentalizados, eles não apresentam diferenças significativas [13, 16]. Mostrando que essas vairáveis podem não ser pré-requisitos para uma menor incidência de IAM e AVC [13,17].


Um dos importantes fatores de risco para as doenças cardiovasculares e AVC são as alterações no metabolismo da insulina [18], mais importantes do que os níveis de glicose sanguínea [19]. As populações não ocidentalizadas nas apresentam as alterações negativas relacionadas com esse hormônio [20-22], sendo essa outra provável causa da ausência dessas doenças entre essas populações.


Quando nos referimos às vantagens em relação à saúde e a aptidão física das populações que possuem hábitos semelhantes aos dos nossos ancestrais do perído pré-agricultura, muitos citam como um dos principais motivos para essas diferenças a carga genética destas populações. Porém muitas características de determinadas populações refletem uma adaptação a algum fator ambiental e não a uma diferenciação genética geral [23]. Isso fica demonstrado pelo fato de que quando as populações não industrializadas são expostas a um estilo de vida ocidental, estas adquirem as características negativas de sáude e aptidão física inerentes a esse estilo de vida [24-28].

Nás regiões árticas do Canadá, Alasca e Groenlândia pode ser encontrada uma nação indígena chamada Inuit. No século XV eles tiveram os primeiros contatos com o “homen branco” caçadores e pescadores de bacalhau, desenvolvendo assim uma relação comercial com os europeos. No ano de 1632 iniciaram as missões jesuíticas para promover a aculturação e cristianização dos Inuit. Entre 1984 e 1994 Rode e Shephard, pesquisadores da Universidade de Toronto no Canadá, realizaram estudos [24-26] avaliando diferentes aspectos da adoção de um estilo de vida ocidentalizado por esta população.


Em um estudo publicado em 1984 [24] eles avaliaram os resultados de 10 anos de exposição a “civilização branca” ocorridos sobre 201 homens (idade entre 9-76 anos) e 143 mulheres (idade entre 10-69 anos) da comunidade Inuit de Igloolik no nordeste do Canadá. Foram realizados testes de exaustão máxima para avaliação da condição cardiorrespiratória e testes de extensão do joelho para avaliação da força muscular em 1980. Que depois foram comparados com os resultados de 1970. Os resultados dessa comparação demonstraram um decréscimo de 15% na capacidade cardiorespiratória, um aumento da massa corporal de 2-4 kg, acúmulo de gordura subcutânea e diminuição da força de extensão do joelho. Estas alterações afetaram todos os sujeitos, exceto os meninos entre 9-15 anos. Isso sugere que a perda de aptidão física está relacionada com a adoção de um estilo de vida sedentário, como a utilização de veículos no lugar de caminhadas na neve.


Em 1993 [25] foi examinada a associação entre as ativades de lazer não sedentárias e vários índices de aptidão em 165 homens entre 13-39 anos e 95 mulheres entre 13-29 anos na mesma comunidade do estudo de 1984 [24]. Os indivíduos ativos conservaram os elevados níveis de aptidão observados nos testes de 1970, mostrando substancial vantagem sobre seus pares sedentários em termos de aptidão cardiorespiratória (27,7% homens, 21,4 % mulheres) e gordura subcutânea (18,3% homens e 5,9% mulheres). Estes também demonstraram menor tendência de diminuição da força extensão do joelho (8,3% homens e 2,0% mulheres). Os autores concluíram o trabalho afirmando que um dos principais desafios era fazer com que os Inuit passassem a ter um estilo de vida saudável, aumentando a proporção de moradores fisicamente ativos para mais do que 18,8% dos homens e 11,6% das mulheres.


Finalmente em 1994 [26] eles avaliaram os resultados de 20 anos de exposição a “civilização branca” ocorrido na comunidade Inuit de Igloolik, concluindo que a aptidão desta comunidade parece ter sido deteriorada marcadamente com a adoção de uma estilo da vida sedentário e que as autoridades tinham que desenvolver métodos eficientes de promoção de um estilo de vida que seja culturalmente apropriado para as populações das regiões árticas.

Colaboram com as informações levantadas nos estudos de Rode e Shephard [24-26], em 2013 uma revisão sistemática da literatura [27] demosntrou que nos últimos 50 anos os nativos americanos do Canadá e nos Estados Unidos tem apresentado menores níves de aptidão física e atividade física, tanto os adultos como as crianças e jovens.


Além das mudanças nos hábitos ligados à aptidão e atividade física, as populações das regiões árticas também mostram alterações nos hábitos alimentares depois da sua exposição a “civilização branca”. Hábitos alimentares que aumentaram a incidência de problemas de saúde como o diabetes tipo 2. Um estudo [28] realizado com 15 comunidades de índios Athabascan, nativos do Alasca, foi realizado para examinar a dieta, o peso corporal e a intolerância a glicose. Os resultados demonstraram que os indivíduos com 60 anos ou mais, que consumiam uma maior quantidade de alimentos não indígenas apresentavam uma taxa de diabetes do tipo 2 que era o dobra da taxa apresentada pelos que tinham um maior consumo de alimentos indígenas. A incidência de intolerância a glicose também foi maiorno grupo de inidivduos que tinham uma maior ingestão de alimentos não indígenas.

A possibilidade que de adoção de que uma alimentação diferente daquela que culturalmente os indivíduos do estudo citado anteriormente [28] estavam acostumados a consumir seja a causa do maior risco de diabetes, de sobrepeso e de intolerância a glicose é reforçada por outros trabalhos [29-31], onde foi demonstrado que uma alimentação baseada em carne, peixes, vegetais e frutas pode ser extremamente eficaz para alterções positivas nos quadros de AVC, IAM, obesidade e diabetes.


A reposta para a pergunta sobre se a influência de um estilo de vida como o dos nossos ancestrais caçadores coletores seria positiva sobre diferentes aspectos da nossa saúde precisaria que este estilo de vida fosse, dentro do possível, aplicado nos dias de hoje. E depois de algumas gerações, verificássemos se as variáveis de saúde teriam apresentado melhoras. Como essa abordagem levará tempo para acontecer, podemos fazer uso de um interessante estudo [32] realizado durante nos anos de 2011, 2012 e 2013. Que envolveu 53 pessoas saudáveis (28 mulheres e 25 homens) com idade média de 38 anos.


Este trabalho teve como objetivo avaliar a influência sobre diferentes aspectos da saúde de um período de 10 dias, onde um estilo ancestral foi mantido. Os participantes passaram este período vivendo ao ar livre nos Pirineus Espanhóis. A comida foi fornecida pela organização, a ingestão de alimentos foi planejada antes da viagem com base na ingestão média diária de alimentos da população Hadzabe, que tradicionalmente vive na Tanzânia.


No primeiro dia foram realiazadas medidas antropométricas e amostras de sangue. Os exames sanguíneos foram realizados com os participantes em estado de jejum. Eles faziam caminhadas diárias de aproximadamente 14 km para atingir uma fonte de água, essa caminhada incluiu alterações na altitude até 1.000 m. Os participantes carregavam mochilas com um peso médio de 8 kg.


Foram consumidas duas refeições diárias. A primeira era fornecida pela organização e a segunda preparada depois da chegada ao local de acampamento. Animais, incluindo patos, galinhas, perus, coelhos e peixes, foram entregues vivos e então preparados pelos participantes. Os peixes foram pegos com redes no rio Noguera.

Os participantes dormiam ao ar livre em sacos de dormir sobre pequenos colchões infláveis. As temperaturas externas variaram de 22 a 42 ° C durante a luz do dia, enquanto as temperaturas noturnas variaram de 12 a 21 ° C. Trabalho manual para limpeza das trilhas nas montanhas foi realizado conforme acordo feito com o Governo da Catalunha.


Os resultados do período de 10 dias geraram diminuição do peso e do IMC de 4,8%, da circunferência da cintura de 5,6% e da relação cintura/quadril de 2,5%. Considerando os exame clínicos ocorrereu uma diminuição da glicose de 12,5%, na insulina de 55%, na hemoglobina glicada (HbA1c) de 1,8%, nos triglicerideos de 20%, no colesterol total de 13,7%, no colesterol LDL 21,9% e relação triglicerideos/HDL colesterol de 19,3%.


Em relação á síndrome metabólica, que é uma alteração no metabolismo da insulina. que pode levar a complicações como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão, ovários poliscisticos, esteatose hepática não alcóolica (gordura no fígado), algumas formas de câncer e apnéia do sono [33]. O período de 10 dia gerou uma provável redução dos riscos. Pois, dos cinco critérios utilizados para o diagnóstico de síndrome metabólica [33] houve alterações positivas em três deles, redução do gordura abdominal (circunferência da cintura), redução na glicose sanguínea em jejum e redução dos triglicerídeos.


Todas as informações levantadas até aqui demonstram que utilização da anásile e identificação dos possíveis hábitos de vida dos nossos ancestrais pré-agricultura, assim como o estudo do estilo de vida de populações atuais não ocidentalizadas, pode ser extremamente eficaz na criação de uma matriz evolutiva que fundamenta a formulação de programas que têm como objetivo a saúde e a aptidão física. Isso se torna ainda mais importante, pois atualmente nossos esforços na prevenção de uma série de doenças degenerativas não vêm se mostrando eficazes e fazendo que adotemos uma cultura que prioriza o tratamento e não a prevenção.

Grande abraço,

Carlinhos

Referências: [1] Organização Mundial da Saúde. 2016. World Health Statistic 2016. [2] Jaffar S.2016. Diabetes and other non-communicable diseases in Africa: a potential disaster in the waiting. DOI: 10.1016/S2213-8587(16)30216-9 [3] http://www.who.int/gho/countries/bra.pdf?ua=1 [4] http://www.who.int/diabetes/country-profiles/bra_en.pdf [5] Eaton SB, et al. 2002. Evolutionary health promotion. doi:10.1006/pmed.2001.0876 [6] Landis SH, et al. 1998. Cancer statistics. DOI: 10.3322/canjclin.48.1.6 [7] CDC. 2001. Tobacco Use -- United States, 1900-1999. [8] Rosen S, et al. 1963. Presbycusis Study of a Relatively Noise-Free Population in the Sudan. PMID: 13974856 [9] Salzano FM, Neel JV. 1976. New data on the vision of South American Indians. PMID: 1084771 [10] Matsudo SN, et al. 2000. Impacto do envelhecimento nas variáveis antropométricas, neuromotoras e metabólicas da aptidão física. DOI: http://dx.doi.org/10.18511/rbcm.v8i4.372 [11] Glanville EV, Geerdink RA. 1970. Skinfold thickness, body measurements and age changes in Trio and Wajana Indians of Surinam. DOI: 10.1002/ajpa.1330320316 [12] Johnston FE, et al. 1971. The anthropometric determination of body composition among the Peruvian Cashinahua. DOI: 10.1002/ajpa.1330340310 [13] Lindeberg S, et al. 1994. Cardiovascular risk factors in a Melanesian population apparently free from stroke and ischaemic heart disease: the Kitava study. DOI: 10.1111/j.1365-2796.1994.tb00804.x [14] Rode A, Shephard RJ. 1971. Cardiorespiratory fitness of an Arctic community. PMID: 5110995 [15] Shephard RJ. 2007. Fitness of Canadian children: range from traditional Inuit to sedentary city dwellers, and assessment of secular changes. DOI: 10.1159/0000101354 [16] Lindeberg S, Lundh B. 1993. Apparent absence of stroke and ischaemic heart disease in a traditional Melanesian island: a clinical study in Kitava. DOI: 10.1111/j.1365-2796.1993.tb00986.x [17] Lindeberg S, et al. 2003. Determinants of serum triglycerides and high‐density lipoprotein cholesterol in traditional Trobriand Islanders: the Kitava Study. PMID: 12817903 [18] Rodrigues TC, et al. 2010. Síndrome metabólica, resistência à ação da insulina e doença cardiovascular no diabete melito tipo 1. http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X2010000100020 [19] Orchard TJ, et al. 2003. Insulin resistance-related factors, but not glycemia, predict coronary artery disease in type 1 diabetes: 10-year follow-up data from the Pittsburgh Epidemiology of Diabetes Complications Study. PMID: 12716791 [20] Joffe BI, e tal. 1971. Metabolic responses to oral glucose in the Kalahari Bushmen. PMCID: PMC1799259 [21] Spielman RS,et al. 1982. Glucose tolerance in two unacculturated Indian tribes of Brazil. PMID: 6751901 [22] Lindeberg S, et al. 1999. Low serum insulin in traditional Pacific Islanders--the Kitava Study. PubMed 6735805 [23] Templeton AR. 2013. Biological Races in Humans. doi: 10.1016/j.shpsc.2013.04.010 [24] Rode A, Shephard RJ. 1984. Ten years of “civilization”: fitness of Canadian Inuit. PubMed 6735805 [25] Rode A, Shephard RJ. 1993. Acculturation and loss of fitness in the Inuit. The preventive role of active leisure. PMID:8397578 [26] Rode A, Shephard RJ. 1994. Physiological consequences of acculturation: a 20-year study of fitness in an Inuit community. PMID: 7713072 [27] Foulds HJ, et al. 2013. A systematic review of physical activity levels in Native American populations in Canada and the United States in the last 50 years. DOI: 10.1111/obr.12032 [28] Murphy NJ, et al. 1995. Dietary change and obesity associated with glucose intolerance in Alaska Natives. DOI: 10.1016/S0002-8223(95)00184-0 [29] Lindeberg S, et al. 2003. Biological and Clinical Potential of a Palaeolithic Diet. http://sci-hub.cc/10.1080/13590840310001619397 [30] Spreadbury I, Samis AJW. 2013. Evolutionary Aspects of Obesity, Insulin Resistance, and Cardiovascular Risk. doi:10.1007/s12170-013-0293-1 [31] Lindeberg S, et al. 2001. Large differences in serum leptin levels between nonwesternized and westernized populations: the Kitava study. DOI: 10.1046/j.1365-2796.2001.00845.x [32] Pruimboom L, et al. 2016. Influence of a 10-Day Mimic of Our Ancient Lifestyle on Anthropometrics and Parameters of Metabolism and Inflammation: The “Study of Origin”. DOI: 10.1155/2016/6935123 [33] Reaven GM. 2005. The insulin resistance syndrome: definition and dietary approaches to treatment. DOI: 10.1146/annurev.nutr.24.012003.132155

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