Como o Capitão América e o Homen de Ferro me levaram a pensar em ciência e alimentação!
Alguns dias atrás eu e meu filho de 10 anos estávamos assistindo novamente o filme Capitão América: Guerra Civil. Em uma passagem do filme ele me faz a seguinte pergunta:
“Os heróis não precisam seguir o que a ONU diz para eles? Afinal de contas é a ONU!”
Respondi que em muitas situações entidades como essa tem razão sobre determinados assuntos. Porém, em outras elas comentem erros.
Citei o caso da Organização Mundial de Saúde (OMS), que em relação à nutrição comete muitos equívocos. Sabem o que ele disse?
“Papi, tu tá dizendo que nesse caso a OMS está errada e tu tá certo?”
Então eu disse: sim! E existem várias pessoas que concordam comigo.
Um exemplo desses equívocos é um trabalho publicado recentemente no Jornal da Associação Americana de Cardiologia (AHA) onde foi demonstrado que uma dieta baseada em plantas diminui a incidência de doenças cardiovasculares, o risco de mortalidade cardiovascular e de morte por todas as causas.
Porém esse trabalho é um estudo observacional que demonstra associação e não causa e efeito, além de apresentar erros metodológicos graves.
O erro de muitas entidades como a OMS e o AHA é considerar evidências que em nada são definitivas para propagarem a ideia de que uma dieta a base de plantas é mais saudável e indicarem politicas que podem no futuro ser danosas para saúde das pessoas, como a recomendação de que sejam aumentados os impostos sobre os alimentos de origem animal.
Recomendações baseadas em evidências fracas como essa são um dos motivos pelo qual tem ocorrido no Brasil um crescimento do número de pessoas que adotaram um a dieta vegetariana ou vegana.
Segundo o IBOPE nas regiões metropolitanas de São Paulo, Curitiba, Recife e Rio de Janeiro ocorreu um crescimento de 75% em 2018 em comparação ao ano de 2012.
Para que vocês possam entender como as recomendações, que serão seguidas por milhões pessoas, são baseadas em evidências deficientes vou mostrar alguns detalhes do trabalho que citei anteriormente.
O estudo em questão se chama Plant‐Based Diets Are Associated With a Lower Risk of Incident Cardiovascular Disease, Cardiovascular Disease Mortality, and All‐Cause Mortality in a General Population of Middle‐Aged Adults.
Goi publicado em de 7 de Agosto deste ano e já se tornou manchete.
O estudo foi realizado com 15.792 pessoas (homens e mulheres) com idade entre 45 e 65 anos.
De 1987 a 1989, foram selecionados participantes de 4 comunidades dos EUA. Visitas de acompanhamento aconteceram em 1990 a 1992 (visita 2), em 1993 a 1995 (visita 3), em 1996 a 1998 (visita 4), em 2011 a 2013 (visita 5) e 2016 a 2017 (visita 6).
Foram coletados dados sobre quem desenvolveu doença cardíaca, quem morreu e quem sobreviveu.
Até aqui tudo beleza, afinal de contas as variáveis mensuradas são que em ciência se chama de desfecho duro, desfechos que são realmente importantes, que são o contrário de desfechos substitutos.
Agora vou apresentar os pontos que considero serem falhos!
Avaliação da alimentação.
As informações de ingestão de alimentos foram coletadas através de questionário, foram realizadas no inicio do estudo (entre 1987 e 1989) e depois na visita 3 (entre 1993 e 1995).
Isso significa que qualquer mudança nos hábitos alimentares dos participantes nos 21 anos seguintes não foram consideradas, caso tenham ocorrido. Assim, como não é possível afirmar que esses hábitos se mantiveram.
Os dados alimentares gerados por questionário apresentam problemas intrínsecos, considerar que eles tenham se mantidos por 21 anos sem nenhum tipo de controle é no meu ponto de vista uma falha grave. Falha que pode comprometer os resultados.
Viés do paciente bem comportado.
Pessoas que tendem a seguir as recomendações sobre hábitos saudáveis, são também aqueles que fazem quase tudo “certinho”.
Escovam os dentes e passam fio dental 3 vezes ao dia, atravessam a rua na faixa de segurança, sempre usam o cinto de segurança, andam de bicicleta de capacete, fazem exercício regularmente, não fumam, fazem sexo seguro, pagam suas contas em dia, sempre obedecem o limite de velocidade da via etc.
Por sua vez, aqueles que não seguem as recomendações, são aqueles que fumam, são sedentários, comem alimentos ultraprocessados, não usam cinto de segurança, não obedecem aos limites de velocidade e etc.
Já conseguiram entender?
Como as recomendações oficiais, das entidades como OMS e AHA, são de que devemos evitar gordura e alimentos de origem animal, as pessoas bem comportadas farão isso e todas as outras coisas que podem reduzir os riscos para a saúde.
Então o viés do paciente bem comportado é a explicação mais provável para os efeitos aparentemente benéficos da ingestão maior de plantas. Este estudo é incapaz de diferenciar se pessoas saudáveis comiam mais plantas, ou se comer mais plantas tornava as pessoas mais saudáveis.
Outros aspectos a considerar.
No inicio do estudo, das pessoas que ingeriam menos vegetais, 68% haviam concluído o ensino médio. Enquanto entre aqueles que comiam mais plantas esse valor foi de 85%.
Será que comer mais plantas torna as pessoas mais inteligentes e aumenta suas chances concluírem o ensino médio? Ou seria o contrário? Obviamente é o contrário, a questão importante é que o estudo não pode provar isso.
27% das pessoas que comiam menos plantas eram obesas, enquanto só 14% eram obsesas entre aquelas de comiam mais plantas. Comer menos plantas engorda as pessoas ou as pessoas obesas comem menos plantas?
32% das pessoas que comiam menos plantas eram fumantes em comparação com 16% entre os que comiam mais plantas. Comer menos plantas faz as pessoas fumarem ou pessoas que fumam comem menos plantas?
O que esse estudo pode concluir?
A única conclusão que este estudo poderia chegar é que nos anos 80 as pessoas que faziam escolhas mais saudáveis também comiam mais plantas e menos carne.
Dizer que esses dados podem sustentar a conclusão de que dietas baseadas em plantas diminuem o risco para saúde e que pessoas vegetarianas e veganas são mais saudáveis que aqueles que comem carne é especulação, adivinhação ou invenção, menos ciência!
Abraço,
Carlinhos